Thales Emmanuel, militante da Organização Popular –
OPA.
Quando
a OPA ainda surgia no município de Aracati-CE, incorporamos a arte como
elemento do Trabalho de Base. Rodávamos as comunidades com filmes de teor crítico.
Logo percebemos que a contribuição do cinema poderia ir além do conteúdo. Isto porque
nos identificamos enquanto militantes, e não como passadores de filmes. Sendo
assim, deveríamos escavacar todo o potencial construtivo das ferramentas à
nossa disposição.
O
primeiro passo geralmente era apresentar a proposta à comunidade. Aceita, vamos
agora dividir as tarefas: quem prepara o local, quem faz a pipoca, quem traz o
suco ou o refrigerante, quem fica responsável pela divulgação, e por aí vai.
Das reuniões saíamos com as temáticas mais necessárias à referida comunidade. A
partir daí, alguém escolhia o filme, procurando sempre uma linguagem acessível.
O
envolvimento da companheirada na preparação melhorava as relações comunitárias.
“Me empresta uma panela para fazer as pipocas?” De repente, se reconhecia o
vizinho como um cara legal e problemas miúdos eram sanados sem se perceber. As
vezes, a comunidade enfrentava sérias dificuldades de participação e a construção
do cinema acabava se tornando um respiro, um pontapé inicial na retomada
organizativa.
“Agora
precisamos de algo para abrir a noite. Ir direto ao cine é seco demais”,
refletimos. Surgiu a ideia de iniciar com um teatro, um teatro do oprimido,
aquele em que não se separa plateia de palco.
A
encenação refletia de forma divertida e interativa o monopólio da mídia
burguesa e o porquê do nome “Cine Poder Popular”. “O que vamos assistir aqui
não passa ou só raramente se vê na Globo. ‘Popular’ porque é nossa visão da
realidade e o ‘Poder’ é porque precisamos transformar esta realidade. Não
somente assistir”.
Um
projetor, um lençol branco e a vontade de construir era o que precisávamos. O
retorno? Despertar e avanço na consciência de classe, melhora das relações
comunitárias, superação natural de problemas, animação, fortalecimento da
organização, cultura, maior sensibilidade frente às injustiças e às belezas da
vida, pessoas se reconhecendo como portadoras de valiosos conhecimentos etc
etc.
O
único “problema” era que, como o povo gostava do filme, mas adorava o teatro, a
partir de certo momento não sabíamos mais se se tratava de um filme, com uma
introdução encenada, ou se um teatro, encerrado com um filme.
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