Equipe de Comunicação da 1° ODCC
Numa
das tantas manifestações de rua recentes em defesa da democracia, nos chamou
atenção o olhar de uma criança, trepada no alto de um pé de pau. O menino devia
ter uns 10 anos. Pobre, preto, favelado, carregava no corpo as marcas de um adultecimento
forçado, certamente pelas dificuldades que cedo teve de enfrentar na vida.
Chagas de um sobrevivente. Ele observava a multidão, que gritava “Viva a democracia!”,
com expressão que parecia de total incompreensão do significado daquelas
palavras.
Muitos
de nós lutamos e seguiremos lutando contra o fascismo e os fascistas. Mas, como
compreender que lutar contra essas forças, sem, contudo, enfrentarmos os
projetos do capital, é o mesmo que enxugar gelo?
O
fascismo é uma das expressões do capitalismo, que, por sua vez, é essencialmente
autoritário, racista e machista. Ou não são genocidamente racistas as reformas
da Previdência e Trabalhista? Quem são as pessoas diretamente atingidas quando
os bancos sugam para eles grande parte do orçamento público? Quando não lutamos
pela revogação, pela anulação de tais medidas, não há aí uma boa dosagem de
conivência com o mal que pregamos combater? Que cor têm as famílias sem teto e
sem o atendimento adequado de saúde que os impostos que pagamos deveriam nos proporcionar?
Qual o gênero e o sexo de quem primeiro e mais sofre com a expulsão de
comunidades inteiras, no litoral e no interior, para dar passagem aos
megaprojetos dos capitalistas? Por que as pessoas atingidas não são consultadas
se querem ou não esses projetos, se concordam ou não com sua implantação? Por
que é que quem lucra, decide, mas o povo atingido é quem paga a conta?
Há cerca de três anos, comunidades de todo o Ceará tentam uma audiência com o Governo Estadual. O objetivo é encaminhar soluções para os graves problemas sentidos. Já entregamos mais de uma carta descrevendo detalhadamente a situação e solicitando a bendita negociação, além de realizarmos uma série de lutas na tentativa de sermos atendidos, mas o que escutamos em resposta foi só enrolação. Promessas apalavradas, e não cumpridas. Sem nada encaminhado, as dificuldades se agravam, e algumas questões agora só podem ser resolvidas com a presença do Governo Federal.
A
1° OCUPAÇÃO EM DEFESA DA CASA COMUM (ODCC) vem com essa dupla finalidade:
denunciar os males causados pelos projetos dos capitalistas e anunciar,
incluindo uma pauta de reivindicação, alternativas para um modo de vida
humanamente sustentável.
A
1° ODCC será uma caminhada, porque partiremos em marcha da Praça da Gentilândia,
às 8 da manhã do dia 11 de dezembro; mas será também uma OCUPAÇÃO, porque só
sairemos do local ocupado quando atendidos pelos governos estadual e federal.
A vida com dignidade é um direito
inerente a qualquer ser humano habitante do planeta Terra, morador de nossa
Casa Comum. Por isso, é imperativo para o povo enfrentar os bolsonarismos, mas
igualmente lutar com toda a garra quando a “democracia” de uns poucos lhe fecha
as portas.
Não é difícil entender o que estamos falando. Basta enxergarmos os meninos-homem de olhares vagos no alto das árvores.
@povosdeluta
@terraliberta.ce