segunda-feira, 13 de junho de 2022

TRABALHO DE BASE E CINE PODER POPULAR

 


Thales Emmanuel, militante da Organização Popular – OPA.

 

            Quando a OPA ainda surgia no município de Aracati-CE, incorporamos a arte como elemento do Trabalho de Base. Rodávamos as comunidades com filmes de teor crítico. Logo percebemos que a contribuição do cinema poderia ir além do conteúdo. Isto porque nos identificamos enquanto militantes, e não como passadores de filmes. Sendo assim, deveríamos escavacar todo o potencial construtivo das ferramentas à nossa disposição.

            O primeiro passo geralmente era apresentar a proposta à comunidade. Aceita, vamos agora dividir as tarefas: quem prepara o local, quem faz a pipoca, quem traz o suco ou o refrigerante, quem fica responsável pela divulgação, e por aí vai. Das reuniões saíamos com as temáticas mais necessárias à referida comunidade. A partir daí, alguém escolhia o filme, procurando sempre uma linguagem acessível.

            O envolvimento da companheirada na preparação melhorava as relações comunitárias. “Me empresta uma panela para fazer as pipocas?” De repente, se reconhecia o vizinho como um cara legal e problemas miúdos eram sanados sem se perceber. As vezes, a comunidade enfrentava sérias dificuldades de participação e a construção do cinema acabava se tornando um respiro, um pontapé inicial na retomada organizativa.

            “Agora precisamos de algo para abrir a noite. Ir direto ao cine é seco demais”, refletimos. Surgiu a ideia de iniciar com um teatro, um teatro do oprimido, aquele em que não se separa plateia de palco.

            A encenação refletia de forma divertida e interativa o monopólio da mídia burguesa e o porquê do nome “Cine Poder Popular”. “O que vamos assistir aqui não passa ou só raramente se vê na Globo. ‘Popular’ porque é nossa visão da realidade e o ‘Poder’ é porque precisamos transformar esta realidade. Não somente assistir”.

            Um projetor, um lençol branco e a vontade de construir era o que precisávamos. O retorno? Despertar e avanço na consciência de classe, melhora das relações comunitárias, superação natural de problemas, animação, fortalecimento da organização, cultura, maior sensibilidade frente às injustiças e às belezas da vida, pessoas se reconhecendo como portadoras de valiosos conhecimentos etc etc.

            O único “problema” era que, como o povo gostava do filme, mas adorava o teatro, a partir de certo momento não sabíamos mais se se tratava de um filme, com uma introdução encenada, ou se um teatro, encerrado com um filme.

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