Thales Emmanuel, militante da Organização Popular –
OPA.
1. O motor e a direção: A indignação e a compaixão, ou seja, a capacidade de
se colocar honestamente no lugar do outro, da outra, são motores que nos
impulsionam, nos movimentam e redefinem prioridades em nossas vidas. Devemos
buscar constantemente formas de nos mantermos sensíveis à opressão e exploração
sentida pelo povo. Já a direção, ou, em outras palavras, o caminho necessário a
se trilhar para a superação dos problemas sentidos, é conferida pela reflexão,
pela formação. A revolta pode provocar grandes estouros, mas, por si só, é
incapaz de remover a montanha que nos esmaga. Por outro lado, quando a reflexão
não leva à ação, é sinal de que o espírito de solidariedade não habita aquele
corpo e, desta forma, toda letra é morta.
2. Do imediato ao geral: Na tempestade em que vivemos é urgente o aparo das
goteiras com baldes. Quem tem fome tem pressa! Entretanto, é preciso que cada
ação, cada atitude tomada no sentido de aliviar as dores sofridas, se converta
também em construção de mecanismos que apontem para a troca do telhado. A
miséria em que vive a imensa maioria da população é artificialmente produzida,
é planejada. E mais: é a consequência lógica de uma estrutura social embasada
na propriedade privada e no lucro. Compreender e sentir nas próprias entranhas
a necessidade de uma revolução social embasa a prática militante de uma
intencionalidade essencial. Não sendo assim, por mais boa vontade que tenhamos,
por maior que seja a disposição, estaremos servindo aos planos que pretendem
manter vivo o sistema de morte.
3. Participações: Temos
a missão de envolver o máximo de gente possível para este objetivo comum. Toda
e qualquer pessoa pode contribuir, isso porque não há somente uma forma de
participar. Sim, há aqueles e aquelas que estarão na linha de frente, porém,
sem retaguarda, nenhuma vitória é possível. E nós queremos vencer! Queremos
construir uma sociedade em que possamos viver todas como irmãs e irmãos. Para
isso é preciso derrotar, vencer o capitalismo. Assim, se faz desafio permanente
encontrar metodologias e tarefas várias que assegurem o mais amplo envolvimento
com a causa. A senhorinha não vai para as lutas, mas apronta o cafezinho da
reunião. Fulano não pode aparecer ainda, senão perde o emprego, mas é
estimulado a realizar uma campanha na comunidade para arrecadar os fundos
necessários à execução da tarefa. E assim vai.
4. A coordenação: Coordenação
não é opção. É necessidade. Quanto mais coesa, maior a eficácia de suas ações.
Coesão, no entanto, não significa uniformidade. Dentro de uma mesma coordenação
a maneira de cada um contribuir também é múltipla. Algumas pessoas são mais
hábeis na lida direta com o povo, outras na comunicação ou na organização das
finanças, e assim por diante. Coesão é fazer com que as variadas formas de
participação ajam o máximo possível de forma articuladas. Para que isso
aconteça, avaliação e planejamento são instrumentos imprescindíveis. O
fundamental à toda militância e, por tabela, a todo coletivo dirigente, é o
compromisso com a verdade e com a entrega, a disposição para a construção dos
objetivos comuns.
5.
Autossustentação: A
organização que se pretende fiel à classe oprimida e explorada deve ser
sustentada por ela. Mesmo tarefas assistencialistas, em que a autossustentação
não é levada em conta, não acontecem sem que alguém as financie. “E quem paga a
banda, escolhe a música”. Não tem jeito! Sem contar que não existe ninguém, por
mais lascado que seja, que não possa contribuir financeiramente com sua
organização. Isso é extremamente pedagógico! Forma consciência. Quando a
autossustentação é trabalhada internamente e ainda assim o militante não
contribui, é sinal que está faltando algo indispensável à sua consciência. “De
cada um segundo suas possibilidades, à cada um segundo suas necessidades” é um
princípio a ser construído desde já.
6. Amor e ódio: É
impossível amar a humanidade sem odiar o sistema que provoca tantas mortes e
tanto adoecimento evitáveis. Neste sentido, amor e ódio são irmãos siameses, um
não existe sem o outro. No entanto, somente guiado pelo amor um ser humano ou
uma organização é capaz de construir um mundo verdadeiramente irmão. Sendo
assim, que o amor governe e conduza a correta aplicação da energia produzida
por seu parceiro inseparável.
7.
A base:
O trabalho de base é base da organização, até para fazer jus ao nome. “Se
distanciar do povo é uma maneira de trair o povo”. Isso não quer dizer que
devamos ou consigamos estar toda a militância diretamente empenhada nesta única
tarefa. As necessidades organizativas e capacidades militantes são variadas,
como já foi dito. O importante é a organização como um todo se planejar e se movimentar
priorizando este vínculo. Sem isso, dificilmente passaremos de força auxiliar
da dominação.
8.
Preparação:
Quanto mais complexa é a tarefa, mais consistente será a formação da militância
que assumi-la, maior será o aprendizado. Devemos, portanto, encarar os desafios
mais difíceis como excelentes oportunidades de nos tornarmos pessoas melhor
preparadas para servir ao povo. Sem falar que ser escolhido ou escolhida para
tais incumbências representa um reconhecimento coletivo pelo compromisso e
capacidade demonstrados. Pode doer, dúvidas e medos certamente aparecerão, mas
estejamos certos de que, assim como o aço não se molda sem o calor, a
militância não se forma sem ser experimentada no fogo das tribulações
inevitáveis.
9. Causa e organização: Sem organização, a causa não passa de atoleiro de
boas-vontades. A gente patina, patina e não sai do canto. Em contrapartida, é a
causa que confere sentido à organização. A causa define a estratégia a seguir.
É através dela que os valores da prática militante se alinham. Por ela fazemos
nossas críticas e autocríticas. Se, em nome da manutenção de alianças, por
exemplo, nos calamos, falamos meias verdades, mentimos para o povo, melhor que
nem exista organização. Ao agir assim, serviríamos à dominação, ainda que permeados
de adornos críticos. Não passaríamos de uma organização de plástico, morta,
existindo única e exclusivamente para enfeitar os porões do capitalismo.
Irmãs e irmãos, companheiros e companheiras,
camaradas, testemunhemos com a vida a fé que expressamos em nossa luta, em
nosso povo e na causa de sua libertação.