sexta-feira, 24 de março de 2023

No Dia Mundial da Água, comunidades celebram luta em defesa da Casa Comum e cobram do governo do Ceará respostas concretas para os graves problemas sentidos



                                                                                                                   Equipe de Comunicação da OPA.

 

Em 22 de março, Dia Mundial da Água, no município de Fortim-CE, a Organização Popular – OPA, junto com inúmeras organizações e comunidades, realizaram a Celebração da Luta em Defesa do Território, da Água e da Casa Comum.

Participaram representações de comunidades de todo o Ceará e de outros estados. Freiras, padres, pastores, políticos também se fizeram presentes. A mistura de cores foi embalada por canções da luta popular e por falas de compromisso com a defesa da vida em sua plenitude. São pessoas que já fazem em seu cotidiano o que pregam. Afinal de contas, “a melhor maneira de dizer é fazer”.

A mística advinda da união do povo oprimido e explorado contra o sistema do capital, que massacra a maioria da população e destrói impiedosamente a natureza, foi de arrepiar do começo ao fim. Em resposta às constantes ameaças de morte que trabalhadoras e trabalhadores têm sofrido, as comunidades cantaram em uníssono: “O risco que corre o pau corre o machado, não há o que temer, aqueles que mandam matar também podem morrer”, canção do sempre camarada Luiz Vila Nova.


        Todos e todas deputados estaduais que se dizem de esquerda receberam convites em mãos em seus gabinetes, mas apenas o deputado Renato Roseno compareceu. Também esteve presente o vereador de Fortaleza, Gabriel Biologia. Ambos saudados entusiasticamente pelo povo. “Sabemos quem está verdadeiramente de nosso lado em momentos como este, quando o nó aperta”, declarou Maria Gomes, da comunidade Dom Fragoso, de Jaguaruana.

João Alfredo, conhecido militante da classe trabalhadora e atualmente superintendente do IDACE – Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará, ao tratar dos graves conflitos ora existentes em Fortim, comprometeu-se ao microfone em resolver a situação em favor dos guardiões e guardiãs da biodiversidade e autênticos donos do território: o povo nativo.

Lideranças comunitárias se sucederam em denúncias que revelaram flagrantes crimes contra a vida, cometidos por grandes projetos empresariais instalados no Ceará. Ao final, leu-se uma carta, escrita por todas estas mãos e endereçada ao governador Elmano de Freitas, cobrando, “com a paciência que as condições acima descritas permitir”, o agendamento de uma audiência de encaminhamento com a comissão das organizações populares participantes. “Temos propostas concretas de superação dos problemas sentidos. Esperamos que o governador não unja suas mãos com o sangue da omissão”, ponderou Elen Silva, atingida pelos crimes cometidos com a construção da Barragem de Fronteiras, em Crateús.


Padre Lopes encerrou a Celebração com uma grande ciranda, simbolizando o compromisso coletivo com a luta do povo em defesa da Casa Comum.



terça-feira, 7 de março de 2023

NOVE REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA MILITANTE


 

Thales Emmanuel, militante da Organização Popular – OPA.

 

1.    O motor e a direção: A indignação e a compaixão, ou seja, a capacidade de se colocar honestamente no lugar do outro, da outra, são motores que nos impulsionam, nos movimentam e redefinem prioridades em nossas vidas. Devemos buscar constantemente formas de nos mantermos sensíveis à opressão e exploração sentida pelo povo. Já a direção, ou, em outras palavras, o caminho necessário a se trilhar para a superação dos problemas sentidos, é conferida pela reflexão, pela formação. A revolta pode provocar grandes estouros, mas, por si só, é incapaz de remover a montanha que nos esmaga. Por outro lado, quando a reflexão não leva à ação, é sinal de que o espírito de solidariedade não habita aquele corpo e, desta forma, toda letra é morta.

 

2.     Do imediato ao geral: Na tempestade em que vivemos é urgente o aparo das goteiras com baldes. Quem tem fome tem pressa! Entretanto, é preciso que cada ação, cada atitude tomada no sentido de aliviar as dores sofridas, se converta também em construção de mecanismos que apontem para a troca do telhado. A miséria em que vive a imensa maioria da população é artificialmente produzida, é planejada. E mais: é a consequência lógica de uma estrutura social embasada na propriedade privada e no lucro. Compreender e sentir nas próprias entranhas a necessidade de uma revolução social embasa a prática militante de uma intencionalidade essencial. Não sendo assim, por mais boa vontade que tenhamos, por maior que seja a disposição, estaremos servindo aos planos que pretendem manter vivo o sistema de morte.

 

3.     Participações: Temos a missão de envolver o máximo de gente possível para este objetivo comum. Toda e qualquer pessoa pode contribuir, isso porque não há somente uma forma de participar. Sim, há aqueles e aquelas que estarão na linha de frente, porém, sem retaguarda, nenhuma vitória é possível. E nós queremos vencer! Queremos construir uma sociedade em que possamos viver todas como irmãs e irmãos. Para isso é preciso derrotar, vencer o capitalismo. Assim, se faz desafio permanente encontrar metodologias e tarefas várias que assegurem o mais amplo envolvimento com a causa. A senhorinha não vai para as lutas, mas apronta o cafezinho da reunião. Fulano não pode aparecer ainda, senão perde o emprego, mas é estimulado a realizar uma campanha na comunidade para arrecadar os fundos necessários à execução da tarefa. E assim vai.

 

4.    A coordenação: Coordenação não é opção. É necessidade. Quanto mais coesa, maior a eficácia de suas ações. Coesão, no entanto, não significa uniformidade. Dentro de uma mesma coordenação a maneira de cada um contribuir também é múltipla. Algumas pessoas são mais hábeis na lida direta com o povo, outras na comunicação ou na organização das finanças, e assim por diante. Coesão é fazer com que as variadas formas de participação ajam o máximo possível de forma articuladas. Para que isso aconteça, avaliação e planejamento são instrumentos imprescindíveis. O fundamental à toda militância e, por tabela, a todo coletivo dirigente, é o compromisso com a verdade e com a entrega, a disposição para a construção dos objetivos comuns.

 

5.      Autossustentação: A organização que se pretende fiel à classe oprimida e explorada deve ser sustentada por ela. Mesmo tarefas assistencialistas, em que a autossustentação não é levada em conta, não acontecem sem que alguém as financie. “E quem paga a banda, escolhe a música”. Não tem jeito! Sem contar que não existe ninguém, por mais lascado que seja, que não possa contribuir financeiramente com sua organização. Isso é extremamente pedagógico! Forma consciência. Quando a autossustentação é trabalhada internamente e ainda assim o militante não contribui, é sinal que está faltando algo indispensável à sua consciência. “De cada um segundo suas possibilidades, à cada um segundo suas necessidades” é um princípio a ser construído desde já.

 

6.   Amor e ódio: É impossível amar a humanidade sem odiar o sistema que provoca tantas mortes e tanto adoecimento evitáveis. Neste sentido, amor e ódio são irmãos siameses, um não existe sem o outro. No entanto, somente guiado pelo amor um ser humano ou uma organização é capaz de construir um mundo verdadeiramente irmão. Sendo assim, que o amor governe e conduza a correta aplicação da energia produzida por seu parceiro inseparável.

 

7.      A base: O trabalho de base é base da organização, até para fazer jus ao nome. “Se distanciar do povo é uma maneira de trair o povo”. Isso não quer dizer que devamos ou consigamos estar toda a militância diretamente empenhada nesta única tarefa. As necessidades organizativas e capacidades militantes são variadas, como já foi dito. O importante é a organização como um todo se planejar e se movimentar priorizando este vínculo. Sem isso, dificilmente passaremos de força auxiliar da dominação.

 

8.      Preparação: Quanto mais complexa é a tarefa, mais consistente será a formação da militância que assumi-la, maior será o aprendizado. Devemos, portanto, encarar os desafios mais difíceis como excelentes oportunidades de nos tornarmos pessoas melhor preparadas para servir ao povo. Sem falar que ser escolhido ou escolhida para tais incumbências representa um reconhecimento coletivo pelo compromisso e capacidade demonstrados. Pode doer, dúvidas e medos certamente aparecerão, mas estejamos certos de que, assim como o aço não se molda sem o calor, a militância não se forma sem ser experimentada no fogo das tribulações inevitáveis.

 

9.    Causa e organização: Sem organização, a causa não passa de atoleiro de boas-vontades. A gente patina, patina e não sai do canto. Em contrapartida, é a causa que confere sentido à organização. A causa define a estratégia a seguir. É através dela que os valores da prática militante se alinham. Por ela fazemos nossas críticas e autocríticas. Se, em nome da manutenção de alianças, por exemplo, nos calamos, falamos meias verdades, mentimos para o povo, melhor que nem exista organização. Ao agir assim, serviríamos à dominação, ainda que permeados de adornos críticos. Não passaríamos de uma organização de plástico, morta, existindo única e exclusivamente para enfeitar os porões do capitalismo.

 

Irmãs e irmãos, companheiros e companheiras, camaradas, testemunhemos com a vida a fé que expressamos em nossa luta, em nosso povo e na causa de sua libertação.

DEFENDER A CASA COMUM: CONSTRUIR A RETOMADA ANCESTRAL.

  Robson de Sousa Moraes (Geógrafo, Professor da UEG) robson.moraes@ueg.br     A Terra é nossa Casa Comum, um lar compartilhado ...