Thales Emmanuel, militante da Organização Popular –
OPA.
Em 1917, Nossa Senhora de Fátima foi
apresentada ao mundo por setores do poder instituído como uma ferrenha anticomunista.
Em 2008, em Crateús, pequena cidade do interior cearense, sua devoção encorajou
famílias sem teto a se organizarem, ocuparem um latifúndio urbano e resistirem
a todo tipo de repressão da parte do Estado capitalista.
Se
a Bíblia é utilizada como instrumento de dominação em templos, suntuosos ou
não, e no Congresso Nacional, na comunidade Nossa Senhora de Fátima, em
Crateús, ela desperta e anima consciências de trabalhadores e trabalhadoras
para a luta, a prática da solidariedade e a construção de um mundo de vida
plena para todas as pessoas.
A crença nas entidades guerreiras de um
terreiro de umbanda, que instiga pessoas a resistir aos egoísmos, a buscar
superar coletivamente adversidades, a sentir a dor do próximo como sua, deve
não somente ser respeitada, mas acolhida como parte da espiritualidade coletiva
da construção do Poder Popular.
A cartilha “Organize-se e Lute: A
proposta da Organização Popular” descreve espiritualidade ou mística como a
força invisível e imensurável que nos impulsiona à defesa da vida, que nos
converte para o projeto revolucionário que assumimos.
Que importa para a superação de uma estrutura
social injusta se uma companheira é levada a agir por compaixão cristã ou por
inspiração em alguma revolucionária marxista? Afinal de contas, o mundo não se
divide entre crentes e não crentes, mas entre exploradores e explorados,
opressores e oprimidos. Na construção do
Poder Popular, aprendemos que valores são valores, independentemente de suas
origens.
É o desvalor, que conduz ao frio glacial
da cruel e cúmplice indiferença, que deve ser combatido, tenha ele o adorno que
tiver.
Que o ardor revolucionário queime, seja
lá qual for sua “matéria”-prima!