quinta-feira, 19 de junho de 2025

OCUPAÇÃO POETA COLIBRI: QUE A JUSTIÇA SEJA FEITA

 


 

Nenhum camponês sem terra

Nenhuma família sem casa

Nenhum trabalhador sem direitos

Papa Francisco

 

 

      Ontem, 18/06, houve uma audiência virtual na busca por uma solução mediada para o conflito entre o latifundiário secretário de governo e deputado estadual, Zezinho Albuquerque, e as famílias da Ocupação Poeta Colibri, localizada nas imediações do distrito de Sítio Alegre, município de Morrinhos-CE.

      Tanto o IDACE quanto a Defensoria Pública, depois de visitarem a área, apresentaram laudos técnicos divergentes daquele elaborado pelo oficial de justiça, mas é este último o que vem sendo utilizado pelo juiz Gustavo Ferreira Mainardes para justificar a ordem de despejo dada por ele contra a comunidade.

      Segundo relatos de moradores da Poeta Colibri, o oficial de justiça, nas duas vezes em que foi ao local, mostrou-se visivelmente tendencioso, ao questionar repetidamente os agricultores “por que justamente a fazenda do deputado Zezinho Albuquerque, e não outra?”

      Como se a Constituição Federal, que determina a desapropriação para fins de Reforma Agrária de latifúndios improdutivos, não valesse para o latifúndio improdutivo do deputado!

      Sem contar que quando há discordâncias do tipo, sobretudo entre departamentos do mesmo Estado, subentende-se que o mais sensato seria proceder com uma ida ao local, conhecer a realidade de perto antes de se emitir qualquer posição. Por sinal, este é o desejo sincero da comunidade, que reitera o convite para uma visita do doutor Gustavo.

      A audiência se desenrolava para a marcação da bendita inspeção técnica, quando um representante da Comissão de Conflitos Agrários, principal instância mediadora, solicitou, com absoluta razão, um prazo adequado para a execução dos trabalhos, tendo em vista que os dez dias determinados para o cumprimento da ordem de despejo já se vencem, em tese, domingo próximo.

      Para surpresa de quase todos os presentes, o juiz do caso, doutor Gustavo, fez foi revalidar o laudo suspeito do oficial de justiça como embasamento exclusivo da verdade, deixando assim a cargo da parte autora, ou seja, do latifúndio, o poder de decidir se suspenderia ou não a ordem de despejo, para que a comissão pudesse realizar a inspeção. E o latifúndio disse “não”, não suspenderia.

      É verdade que a crença em uma Justiça justa ficou ainda mais distante das consciências das famílias trabalhadoras da comunidade Poeta Colibri. Mas é fato também que a disposição de lutar até o final para que a justiça seja feita ganhou uma carga adicional de energia depois desta audiência.



Equipe de Comunicação da OPA

 
 
 





quarta-feira, 18 de junho de 2025

AMEAÇADAS DE DESPEJO, FAMÍLIAS CAMPONESAS HASTEIAM BANDEIRAS DA PALESTINA E DENUNCIAM: “O POVO PALESTINO TEM DIREITO À TERRA, E NÓS TAMBÉM. RESISTIREMOS!”

 

 
 
 

Equipe de Comunicação da Organização Popular - OPA




    Se você passar numa das estradas carroçáveis do município de Morrinhos, localizado a aproximadamente 211 km de Fortaleza, no Ceará, pode se deparar com um cenário inesperado: inúmeras bandeiras da Palestina hasteadas em frente a uma propriedade rural.

    Ali se encontram 52 famílias agricultoras sem terra, prontas para resistir a uma ação de despejo movida pelo secretário de governo e deputado estadual, Zezinho Albuquerque.

    A Ocupação Poeta Colibri, como as famílias a batizaram, nasceu em setembro de 2024, quando dezenas de trabalhadoras e trabalhadores do distrito de Sítio Alegre, no município de Morrinhos, entraram num conhecido latifúndio que há muito não cumpria com sua função social, como determina a Constituição Federal.

    As famílias nativas literalmente ocuparam a terra! Em nove meses, cultivaram uma diversidade incontável de alimentos, melhoraram as estruturas e estavam construindo suas vidas ali quando receberam uma liminar de reintegração de posse, uma ordem de despejo, emitida pelo juiz de Santana do Acaraú, Gustavo Ferreira Mainardes.


O doutor juiz precisa chegar aqui para conhecer a realidade. A terra não produzia nada há uns 20 anos. Somos famílias aqui da região, nativas. Sabemos o que estamos dizendo e também o que estamos fazendo. Temos direito a essa terra. Alguns de nós têm sim uma casinha simples na cidade. Isso não tira nosso direito, porque ninguém tem terra. Se o juiz vier, será muito bem acolhido, terá a oportunidade de conhecer nosso lugar e comer de nossa produção. Trabalhamos na terra e precisamos dela para plantar”, comentou seu Aristides, integrante da Poeta Colibri.


    Com a apreensão gerada ante a iminente repressão por parte do Estado, reunindo-se e assistindo ao que ocorre com o povo palestino, a identificação se fez inevitável:


O povo palestino é gente que não é tratado como gente, igual a nós. O povo palestino tem direito à terra e a viver como qualquer outro povo do planeta, igual a nós. O governo de Israel está querendo tirar eles do mapa. O deputado e o juiz estão querendo fazer a mesma coisa com a gente. Por isso fincamos essa ruma de bandeira da Palestina, porque nós somos a Palestina e a Palestina somos nós. É pela vida. Nós lutamos pela vida!”, continuou seu Aristides.

 

    O deputado Zezinho Albuquerque apresentou documentos que comprovariam a propriedade de apenas uma pequena parcela do latifúndio abandonado.

    O magistrado Gustavo Ferreira Mainardes não considerou o índice de produtividade, necessário ao cumprimento da função social da terra. Decretou o despejo justificando que os trabalhadores possuem casa e concedeu dez dias para que as famílias saiam com seus pertences, incluindo a colheita do que for possível, sob pena do uso da violência.

    Pessoas, comunidades e entidades, a par da injustiça flagrante, somam-se à luta e afirmam estar dispostas a resistir até o final com a Poeta Colibri.

    A comunidade cobra dos governos uma inspeção técnica da área e convida, muito respeitosamente, o juiz para uma visita, para que emita seu parecer depois de conhecer com os próprios olhos a realidade. Além de resistir, tal e qual o povo palestino, no direito de existir.


 

quarta-feira, 28 de maio de 2025

O QUE FAZER COM A BESTA DE CINCO CABEÇAS


Thales Emmanuel, militante da Organização Popular - OPA

Quando criança, ela olhava com admiração e entusiasmo o avião que fazia chover gotas coloridas de arco-íris sobre sua casa, numa comunidade de camponeses sem terra no sertão cearense. Hoje, adulta, discursa com orgulho para outros trabalhadores sobre os males provocados pelos agrotóxicos, em especial aqueles lançados do alto, por aviões ou drones.
     
   Ela estava na luta no momento em que aproximadamente cinquenta capangas encapuzados e armados invadiram a comunidade Gregório Bezerra, em Jaguaruana-CE. Eram 2:30 da madrugada. Todos dormiam.

Em meio a xingamentos e ameaças, ela escutou quando um companheiro, percebendo entre os capangas três ou quatro jagunços profissionais, matadores de gente, mas tendo os demais todas as características de seguranças de festa, começou a falar:

“Dá pra ver que vocês são trabalhadores, filhos de trabalhadores. Devem morar na capital, nas periferias de Fortaleza.”

“Sim, somos de lá! E daí?”, retrucou raivosamente um encapuzado.

“Nós também somos trabalhadores. Estamos lutando pela terra, para não precisarmos ir para as cidades, como seus avós foram no passado. Tenho certeza que suas famílias vieram do interior para a capital. Se perguntem de onde são, de onde vieram suas famílias!”

“Cale a boca! Vocês não passam de uns vagabundos que invadem o que é dos out..”

“Deixe ele falar! Deixe ele terminar de falar!”, os jovens recrutados para o trabalho sujo de jagunço entram em divergência.

“Nós temos direito a essa terra! Mas a lei não é cumprida quando é para favorecer os pobres. Vocês talvez não saibam, mas são vocês que estão cometendo um crime. Seu patrão entende muito bem disso e, se der errado, ele se livra e o B.O. cai pra cima de quem? De vocês, é claro! Prestem atenção: seus avós foram expulsos no passado pelos mesmos empresários e fazendeiros que agora pagam vocês para nos expulsar! Os ricos nos usam, jogam a gente uns contra os outros para poderem nos dominar. Vocês precisam do dinheiro deles para sobreviver porque os avós deles expulsaram seus avós lá atrás.”

O tempo passou lentamente, até o dia raiar e a intensidade do conflito se dirimir na medida do possível. A falta de preparação dos seguranças de festa seria a justificativa perfeita para “isentar” o fazendeiro das mortes que, por puro milagre, não aconteceram. Com a situação relativamente estabilizada, os jagunços profissionais sumiram de cena sem deixar rastros.

A fazenda ocupada pelos trabalhadores era a mesma que pulverizava agrotóxico de avião na cabeça das pessoas antigamente. Entre as mulheres trabalhadoras que resistiram à invasão jagunça, muitas corriam atrás da aeronave fazedora da chuva mal cheirosa quando crianças.

Latifúndio não se separa de veneno, que não se separa de violência. O que chamamos de agronegócio se constitui à base da junção de cinco elementos principais: a grande propriedade da terra, a mídia, os bancos, o Estado e a indústria capitalista; esta última, a que produz os agroquímicos e suas aeronaves de lançamento.

O Estado, financiado pelos cofres públicos, isenta essas empresas de impostos, constrói e cede infraestruturas para sua instalação e bom funcionamento (terras, canais, portos, estradas, trabalhadores etc), reembolsa bancos quando o latifúndio não paga suas contas, reprime comunidades ou faz vista grossa quando a repressão parte de um ente privado. O Estado cria leis que favorecem e ampliam o consumo das mercadorias despejadas pela indústria capitalista, ainda que estas adoeçam e matem a população, como a lei que autoriza a pulverização aérea por drones no Ceará ou ainda a “mãe das boiadas”, em tramitação no Congresso Nacional, que elimina a necessidade de licenças ambientais para os projetos capitalistas.

A besta demoníaca de cinco cabeças existe. Ela devora pessoas cotidianamente. O sangue que circula em suas veias não é dela. Pertence aos povos nativos, às senzalas e quilombos, ele é sugado sem anestesia das favelas, da juventude, dos trabalhadores assassinados por protestarem contra suas maldades, é o sangue das mães que amamentam seus bebês com o peito carregado de agrotóxicos, dos mortos por câncer, dos suicidados pela depressão, do filho que nasce doente e perdura pela vida inteira com sequelas.

Cada terra retomada, cada lei maldita derrubada pela pressão popular faz tremer o monstro, que não cai e, via de regra, ressurge mais poderoso a cada baque. Ainda que não o derrotem de imediato e por completo, essas ações nos servem de aprendizado e preparação. As batalhas nos ensinam a afiar a lança, cujo tiro mortal deverá ser desferido sem piedade no meio do peito da criatura.

O líquido que circula na besta é o sangue de uma larguíssima parcela da humanidade que precisa decidir o que fará de si mesma, se sucumbe conformada ou se luta para vencer.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

ARGUMENTOS ENVENENADOS E O ANTÍDOTO - CHUVA DE VENENO NUNCA MAIS!


 

Camilo da Mata, militante da Organização Popular - OPA

 

O governador do Ceará, Elmano de Freitas, tem repetido insistentemente que o consumo de agrotóxico no estado aumentou após a criação da Lei Zé Maria do Tomé, aprovada em 2019 e que proibia a pulverização aérea de agrotóxicos. A valer, o que o chefe do executivo estadual faz é insinuar nas entrelinhas que de nada importa ou mesmo que a culpa pelo aumento do consumo do químico empresarial no estado decorre da proibição da chuva de veneno. Um argumento, esse sim igualmente envenenado, cujo objetivo é justificar uma lei criminosa, a que autoriza a pulverização por drones, sancionada por ele e mais 22 deputados em dezembro de 2024.

O consumo de agrotóxico realmente subiu depois que a Lei Zé Maria do Tomé entrou em vigor, mas não foi por causa dela. Aliás, ele subiu antes, durante e depois da lei. Subiu apesar da lei! O porquê isso ocorre veremos agora.

O fato das políticas governamentais estarem em total consonância com a lógica do agronegócio é o principal fator do crescente e constante consumo de agrotóxico. É a lógica para a qual governam e legislam a maioria dos parlamentares. A empresa quer lucro, e quanto mais vende, mais lucro obtém, independente das consequências. A empresa que produz veneno quer vender mais veneno, e vende mais quanto mais largas são as facilidades.

Assim sendo, o Plano Safra 2024-2025, do Governo Federal, que destina quase 500 bilhões de reais de dinheiro dos cofres públicos para o agronegócio, tornou-se o maior da história do Brasil. Sem contar toda infraestrutura, água e terras fartas que são disponibilizadas pelo Estado para as grandes empresas do ramo. No Ceará, o agrotóxico paga zero por cento de imposto para circular! É como um assassino que se movimenta livremente fazendo suas maldades à luz do dia, sem ser incomodado pela força da lei, ou pior, sendo respaldado por ela.

Por falar em assassino, o que mandou matar Zé Maria do Tomé segue soltinho da Silva, recebendo facilidades e honrarias. Zé Maria foi assassinado com mais de 20 tiros pelas costas quando protestava contra a pulverização aérea de veneno e denunciava o roubo das terras da Chapada do Apodi por parte das empresas.

De 1990 a 2021, foram despejados 1.300% a mais de agrotóxicos no ambiente e nos corpos brasileiros. Agora, imagina o que seria de nós sem os cinco anos em que a pulverização aérea esteve proibida no Ceará!

Difícil acreditar que alguém pode insinuar seriamente que a proibição da pulverização aérea faz aumentar o uso de veneno ou que não tem a menor importância. Ora, o que é melhor para uma empresa multinacional que lucra com a morte: ter liberadas dez maneiras diferentes de envenenar, ou contar apenas com metade delas, tendo as outras cinco proibidas?

Dos 10 agrotóxicos mais vendidos no Brasil, cinco estão banidos da União Europeia. O que interessa mais a uma empresa que produz agrotóxicos: ter todos os seus produtos liberados para a comercialização ou somente parte deles?

O consumo de veneno cresce porque governadores e parlamentares, com raras e honradas exceções, eleitos pelo povo, governam e legislam contra o povo, ainda que isso os torne uns fora-da-lei. Não é difícil entender: se a lei Zé Maria do Tomé proíbe a pulverização aérea de agrotóxico, é de se supor que nem de bolinha de papel arremessada ao ar o veneno poderia ser lançado. Ou seja, a lei que autoriza a pulverização aérea por drones é uma lei fora-da-lei, já que, em tese, a lei Zé Maria do Tomé continua em vigor.

A propósito, na Europa, a pulverização aérea é proibida, seja de avião, drone ou disco voador. Das duas, uma: ou o povo brasileiro é uma espécie mutante com superpoderes que nos tornam imunes ao veneno; ou, se faz mal lá, faz mal aqui também.

Outra justificativa utilizada pelo governador é a de que os drones protegeriam o trabalhador, já que este não precisaria manusear diretamente o produto tóxico. Como não?! Por acaso é o empresário quem abastece o drone? É ele quem controla a máquina ou mora nas imediações de onde está chovendo veneno? O que se diz mesmo é que os grandes homens de negócio sequer se alimentam do que seus trabalhadores produzem. Preferem o natural ao plástico. Eles sabem bem o mal que fazem.

Esse argumento do governador, tão envenenado quanto o primeiro, assemelha-se bastante aquele que se tornou corriqueiro escutar nos últimos tempos, de que política pública de segurança é armar o “cidadão de bem”. “Se você tem dinheiro, nós o licenciamos para que se arme, com pistola, fuzil ou drone.”

Os trabalhadores não querem ter que escolher entre morrer com tiro de pistola ou de fuzil. Os trabalhadores e trabalhadoras não querem ser envenenados é de jeito nenhum! O que precisam e almejam são políticas públicas que lhes proporcionem condições de vida digna.

Até porque não confundamos Política Pública, aquela que deveria existir em benefício de toda a população, a começar por quem mais precisa, com trabalhar para a indústria das armas ou para a indústria do veneno, que, diga-se de passagem, são uma coisa só. A Monsanto, por exemplo, uma das gigantes do agronegócio, é responsável pela produção de munições de fósforo branco, utilizadas pelo Estado de Israel contra os palestinos. Quando a Política é verdadeiramente Pública, ela enfrenta aquilo que faz mal ao público, e não o favorece.

E como os drones da morte fazem mal! Como é amplamente denunciado pelas mídias populares, no Brasil, eles são empregados até mesmo como armas de guerra, despejando veneno contra comunidades no intuito de expulsá-las. Inclusive, enquanto escrevo estas linhas, chegam-me vídeos de vários locais do Ceará apresentando a devastação que o veneno aplicado por drones provoca nas comunidades do entorno (acesse pelo insta: @movimento_revogaja).

O agronegócio quer todas as terras para ele. Como destrói tudo que encontra pela frente, precisa sempre de mais terras novas, de mais florestas para devorar. A expansão geográfica da soja que o diga! Triplicou nas últimas três décadas, enquanto a desapropriação de latifúndios para fins de Reforma Agrária praticamente zerou. O avanço de um modelo representa necessariamente o recuo do outro.

A pulverização aérea é tão indefensável, que nem em termos de mira dá para se argumentar. Pesquisas da EMBRAPA demonstram que apenas 32% do veneno lançado ao ar atingem o alvo, e os 68% restantes podem alcançar até 32 km de distância.

Nas comunidades da Chapada do Apodi, especialmente em Quixeré, Limoeiro e Tabuleiro do Norte, tão logo se aprovou a lei fora-da-lei, a catinga de veneno tomou conta do ar. As mães não têm mais sossego: “Moro numa das últimas casas da comunidade e não consigo respirar direito com o mau cheiro. Não tenho mais paz. Passo o dia preocupada com meu filho que está na escola.” A escola fica bem perto de onde estão os drones.

À beira da revolta, mulheres da comunidade fazem um convite anti-Óleo-de-Peroba: “Governador e deputados que aprovaram a lei dos drones, venham morar uns dias com a gente. Os senhores e suas famílias. Venham comer de nossa comida, beber de nossa água, respirar de nosso ar. Seus filhos estudarão em nossas escolas. Venham! Serão bem acolhidos.”

Como diz a canção: “Quem tá perto sofre mais, mas quem tá longe a morte vai atrás”. No Brasil, são quase um milhão de novos casos de câncer a cada três anos. A doença se alastra no campo e na cidade.

Para finalizar: Se o governador realmente se preocupa com a saúde do trabalhador, deve escutá-lo antes de qualquer coisa. Uma excelente oportunidade é considerar o resultado das dezenas de milhares de votos do Plebiscito Popular Contra a Chuva de Veneno, fazer as pazes com seu passado de advogado dos Sem Terra e revogar a maldita lei fora-da-lei que ajudou a criar. O povo saberá reconhecer.

Do contrário, não tenhamos dúvida: estará matando novamente Zé Maria e sendo cúmplice dos adoecimentos e mortes que seguirão aumentando com o crescimento do agronegócio. Sem contar que ir contra a vontade soberana e consciente do povo é algo completamente inútil, pois só servirá para ampliar a indignação e a revolta dos que sofrem.

Enfim: se tem veneno, tem antídoto.



 

segunda-feira, 17 de março de 2025

“CHUVA DE MIJO NUNCA MAIS!”

(Ficção baseada e inspiradora de fatos reais)

No dia 19 de dezembro de 2024, o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), sanciona, em tempo recorde, uma lei que autoriza a pulverização aérea de agrotóxico por drone no estado.

Contando com a aprovação de 22 deputados de vários partidos, inclusive de todos os seus opositores, o cancerígeno agronegócio triunfa mais uma vez. Na ocasião, apenas 9 parlamentares votaram contra a chuva de veneno. Um se absteve.

...

   Quatro de fevereiro de 2025. A primeira sessão do ano da ALECE, a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, está com sua plenária completamente lotada e impecavelmente preparada para mais um evento especial. Deputados, empresários, o governador e sua comitiva, todos ali presentes para a concessão do título de Cidadão Cearense ao grande empresário do agronegócio, o senhor Jota Peixeira.

   Jornalistas se posicionam para melhor cobrir aquele instante de plena magia, alguns bem trajados com a estampa "Agro é tech, Agro é pop, Agro é tudo!"

   Depois de um probleminha na revista de entrada, um grupo de dez estudantes acomoda-se na pequena arquibancada do piso superior, destinada a quem do povão queira prestigiar a solenidade.

   Em protesto, alguns poucos deputados se sentam na mesma galeria com o povão. Entre eles, Renato Roseno (PSOL), uma espécie de pregador no deserto parlamentar contra a chuva de veneno.

   A solenidade se inicia. As autoridades mais importantes se sucedem nas falas, uma por uma. É um "vossa excelência" daqui, um "vossa excelência" dali... Lideranças de movimentos sociais são capturadas pelas câmeras, entre as celebridades.

   Tanto na arquibancada quanto entre as autoridades, alguns pescam breves cochilos. As câmeras não mostram.

   Chegado o momento de apoteose, aquele em que o presidente da sessão e o homenageado seguram lado a lado a honraria impressa para um piscar interminável de flashes, um dos estudantes retira de sua mochila um drone carregado com um líquido de amarelado fluorescente, que logo se pôe a voar pela plenária, pulverizando todos lá em baixo.

   As primeiras gotas caem sobre o deputado Felipe Mota, do União Brasil, que em dezembro ameaçara invadir um órgão público com 400 tratores, caso a lei dos drones não fosse aprovada. Ele cheira cautelosamente seu blazer, já começando a encharcar, e, numa expressão de puro pânico, grita histericamente:

- É venenooooo! Socorro! Seguranças, está chovendo veneno na plenária! Acuda aqui!!!

   Sua valentia de outrora escorre feito barro mole por entre as pernas.

   A partir daí, tudo vira um verdadeiro alvoroço! É uma gritaria sem fim, um corre-corre desesperado. Autoridades caindo umas por cima das outras, à procura de abrigo seguro.

   Os seguranças, com medo da substância tóxica anunciada, não se atrevem a sair da proteção de sua sala.

“Eu, hein! Morrer de graça, se é praticamente de graça que trabalho”, refletem.

   Doutora Silvana (PL), conhecida pelo seu extremismo de direita e terrivelmente favorável à lei dos drones, agarra-se, ajoelhada, a um deputado da esquerda, e chora copiosamente:

- Meu vermelhinho, nós vamos morrer! Meu vermelhinho...

   O empresário homenageado, senhor Jota Peixeira, ensopado e paralisado pelo estado de choque no alto do lugar de honra, ergue as mãos aos céus e confessa, como se negociasse com um plano Divino desconfiado da sinceridade de suas preces:

- Fui eu, meu Deus, fui eu! Fui eu quem mandou matar o trabalhador Zé Maria do Tomé. Eu pequei, mas não peco mais. Me perdoe por tudo que há de mais sagrado. Agora, pelo amor de Deus, meu Deus, me salve desse fim horrendo, eu e meu patrimônio! Para que eu possa, vivo e com minhas propriedades, ajudar a quem mais precisa.

   Na arquibancada e nas TVs, onde a audiência está enorme e a pulverização não alcança, a alegria toma de conta. A favela lança fogos de artifício ao ar. O povão está por cima da carne seca, como só algumas vezes acontecera na história da humanidade.

   O comportamento festivo chama a atenção do governador, que, em meio ao caos, para, desiste de tentar fugir do céu nublado da Assembleia. Desconfiado, cheira então suas mãos molhadas. De imediato, imagens ocupam sua cabeça, relembrando o tempo em que era advogado dos Sem Terra e lutava contra o agronegócio e seu projeto de morte.

“Peraí! Já vi esse filme antes”, pensa.

   Sem graça, como quem descobre ser vítima de uma pegadinha, o governador caminha lentamente até o microfone mais próximo e fala:

- É mijo, minha gente! Quando lavar, sai.

   Todo o ambiente mergulha no mais absoluto silêncio. Como estátuas de pedra, ninguém se move, a não ser o odor da urina, que ganha as ruas.

   É aí que o deputado Renato Roseno, sempre muito diplomático, agora compreendendo o que se passava, não se contém e cai na gargalhada. Entre fortes soluços e mais risos, ele finalmente solta a voz, esforçando-se para não perder o decoro:

- Se com uma chuvinha inofensiva de mijo vossas excelências ficam assim, imagina se fosse chuva de veneno. Kkkkkkkkkkk...


João Grilolândio Suassuna

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

POLÍCIA PARA QUEM PRECISA DE POLÍCIA. DIREITOS PARA QUEM PRECISA DE DIREITOS.

 



Equipe de comunicação da OPA/ Ocupação Marielle Franco - Teresina

 

Aproximadamente 50 mil famílias sobrevivem sem moradia adequada em Teresina. Somente elas e Deus sabem como!

No dia 30 de janeiro passado, esse doloroso número aumentou quando 80 casas da Ocupação Marielle Franco foram impiedosamente destruídas em violento despejo.

O Estado, que deveria assegurar um direito impresso na Constituição Federal, lei maior do país, apresenta-se como infrator e promotor direto das injustiças.

Além do mais, fora o terreno ocupado não cumprir qualquer função social há mais de década, as famílias da Marielle conseguiram reunir um conjunto de documentos que apontam para fortes indícios de grilagem.

A COAVE, empresa que pedira ao Judiciário o despejo das famílias, estaria roubando para si o terreno que, ao que tudo indica, é público!

Empurradas pela necessidade e por sonhos de vida digna, na manhã de ontem, 20 de fevereiro, Dia Mundial da Justiça Social, as famílias da Ocupação Marielle Franco derrubaram a cerca e retomaram o território, enfrentando corajosamente os capangas que a COAVE contratara e resistindo às investidas da Polícia Militar, que em poucas horas aparecera ao menos três vezes no local, obedientemente acompanhada por representante da empresa e tentando intimidar o povo com ameaças.


"Policial, receba esta documentação. Ela comprova que existe um crime flagrante aqui. O crime está sendo cometido agora, neste momento! Os capangas da empresa estão agindo à luz do dia. Esta terra está sendo grilada. Veja! Segure este documento. Terra pública sendo grilada!", falou indignado Raimundo Borges, integrante da Marielle, numa das aparições da PM.

Respondendo não ser esta atribuição da Polícia, o comandante da operação emendou com arrogância, como se nenhuma denúncia houvesse sido feita:                                                                                                                                                                                                                                        "Vocês sabem que estão desobedecendo uma ordem judicial, que podem sofrer as consequências por isso? É melhor saírem e esperarem fora da terra." 




Segundo consta nos autos do processo, a área registrada como sendo da COAVE é de 0,8 ha e se localiza numa esquina do quarteirão. A ocupada pela Marielle Franco fica na diagonal oposta do mesmo quarteirão, em outro terreno, em outra rua, e possui um tamanho de 1,6 hectares. O dobro!

Como pode uma posse ser reintegrada a quem não tem a posse?!

Seria sensato da parte do juiz realizar uma perícia, como orientou o promotor antes mesmo de ordenado o despejo. A comunidade o convida, inclusive, para ir ao local e descobrir com os próprios olhos e ouvidos quem está com a verdade.

Polícia para quem precisa de polícia. Direitos para quem precisa de direitos.


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

COMO FAZER PARA UNIR A ESQUERDA?

 


Por Thales Emmanuel, militante da Organização Popular - OPA

 

“Cuidado com a resposta, porque ela pode mostrar que a pergunta não fazia, absolutamente, nenhum sentido.” Se não entendeu, leia então o que nos disse o companheiro Cícero Passos, agricultor e integrante da OPA na Ocupação Gregório Bezerra, em Jaguaruana-CE.

- Cícero, você sabe como a gente faz para unir a esquerda?

- A esquerda já está unida. Está unida no mundo todo.

- Ãh! Como assim?

 - A esquerda mundial é liberal, é capitalista. Como é que o capitalismo vai andar junto com o comunismo? Isso não vai ajudar. O problema do comunismo é que vai muito para o lado da esquerda mundial. O comunismo pode ser mil veze mais forte, mas não é, porque ainda está acreditando na ideologia da esquerda mundial. E só existe uma esquerda mundial: a capitalista. Isso acaba beneficiando os grandes empresários e os banqueiros. Só há uma forma do comunismo ser comunista, é servindo ao povo com intensidade, lutar pela causa do povo, estando no meio do povo, para que o povo possa ter confiança nele. No dia em que o povo tiver confiança no comunismo, no dia em que acreditar no comunismo, ele vai fazer uma grande revolução no Brasil. Porque, na realidade, o povo não sabe nem o que é comunismo. Os comunistas estão muito longe do povo. No dia em que o povo acreditar, confiar no comunismo, no dia em que o povo acreditar que os comunistas estão junto com o povo, o povo estará junto com os comunistas. Aí, sim, nós vamos fazer uma revolução; mas antes, não.

Cícero não nega, em absoluto, a importância de lutas comuns com a esquerda liberal, como as contra o fascismo, por exemplo. O que ele tenta nos explicar é que a unidade para a revolução não vem do consenso com “a esquerda”, mas da força gravitacional gerada a partir da inserção ativa e cotidiana da militância revolucionária no ceio da classe.

            Enfim, o desafio está dado! Reformulemos as perguntas.


OCUPAÇÃO POETA COLIBRI: QUE A JUSTIÇA SEJA FEITA

      Nenhum camponês sem terra Nenhuma família sem casa Nenhum trabalhador sem direitos Papa Francisco           Ontem, 18/06, hou...