quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Dívida Pública e o martírio de todo um povo*

 


Thales Emmanuel, militante da Organização Popular – OPA

 

O que é Dívida Pública e o que ela tem a ver com a minha, com a sua, com as nossas vidas? Vamos saber agora.

A chamada Dívida Pública existe há mais de quinhentos anos. Deveria ser um recurso que o Estado e os governos brasileiros tomariam emprestado a bancos para investir na melhoria da vida de toda a população. Deveria, mas não é! Mesmo o discurso difundido sendo este, a Dívida tem servido mesmo é para sangrar o povo brasileiro e enriquecer meia dúzia de banqueiros e megaempresários. Até porque é este grupo, esta classe de capitalistas, quem determina como seus governos devem aplicar o dinheiro emprestado.

É a partir deste acordo feito às escondidas que governos limitam ao máximo os investimentos sociais em saúde, educação, moradia, Reforma Agrária... Precisam garantir, sem maiores preocupações para os banqueiros, o pagamento dos juros. Você já deve ter ouvido falar em Teto de Gastos, Responsabilidade Fiscal, Superávit Primário, Reforma da Previdência... São palavras “bonitas” que eles usam para enfeitar o roubo que promovem contra a gente.

Investigações feitas no Brasil descobriram inúmeras irregularidades e crimes envolvendo o processo da Dívida Pública. Estudos sinalizam, inclusive, que ela já foi paga mais de meia dúzia de vezes. Ainda assim, os valores atuais já ultrapassam 8 trilhões de reais. Os donos de bancos levam praticamente metade de tudo que o Estado brasileiro arrecada com nossos impostos a cada ano, só com o pagamento de juros e amortizações. Isso mesmo que você leu! Aproximadamente 50% dos cofres públicos vão para megaempresários, enquanto o sistema público de saúde, por exemplo, recebe pouco mais de 3% de investimento. Ou seja, não é por falta de dinheiro que as pessoas morrem na fila dos hospitais; é por decisão política, uma política que assassina e aleija milhões de famílias trabalhadoras. O Bolsa-Banqueiro é responsável direto pelo cruel e permanente martírio pelo qual passa nosso povo!

O que podemos fazer para mudar essa história? Lutar pela suspensão imediata do pagamento da Dívida, até que uma investigação profunda, com participação popular, escancare tintim por tintim a verdade dos fatos. Lutar por uma Auditoria da Dívida Pública!

 

Vamos conversar sobre...

1.      Como os problemas causados pela Dívida Pública são sentidos em nossas vidas?

2.      O que a Dívida Pública tem a ver com nossa Semana dos Mártires?

3.      Como a Dívida Pública interfere no projeto de Jesus de vida plena para todas as pessoas?

 

*Texto utilizado por Missionários/as Leigos/as Redentoristas na Semana dos Mártires de Parnaíba-PI, em 2023.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

FAMÍLIAS REALIZAM RETOMADA DE TERRA EM CRATEÚS


                             Thales Emmanuel, militante da Organização Popular – OPA


            O município de Crateús, no sertão cearense, amanheceu o dia de ontem, 28/01, com mais um passo dado na construção do Poder Popular. A cidade, conhecido território indígena multiétnico, acordou com mais uma retomada urbana, uma ocupação de luta por terra e moradia.

         As trinta famílias Sem Teto, organizadas na OPA, são sócias da Associação de Moradores e Agricultores do Conjunto Nossa Senhora de Fátima, respeitada entidade local de defesa dos direitos humanos.

“A retomada foi feita à meia noite, do dia 27 para o dia 28. Mas ela vem de bem antes. Tivemos muitas reuniões de preparação até chegarmos aqui. Estamos conscientes do que vamos enfrentar, e vamos até o fim. Precisamos de casa para morar. É uma necessidade e um direito nosso.”, declarou Vicente, um dos ocupantes.

            Para Fabiana Araújo, indígena potiguara e membra da coordenação local da OPA, “as famílias lutam pela urgência da sobrevivência, mas o processo para a retomada é todo ele de formação. Formação em práticas de solidariedade, formação em organizar as várias formas de resistência popular, em viver em comunidade, formação para entender que é preciso se unir, povo oprimido e explorado, contra o sistema capitalista que nos massacra. Estudamos, cantamos, nos abraçamos e lutamos, tudo ao mesmo tempo.”

Já Raimundo Nonato, igualmente da coordenação local da OPA e morador da comunidade Poty, atingida pela Barragem Fronteiras, destaca que “onde tiver um irmão ou irmã lutando por direitos (moradia, terra...), estaremos juntos. Deus deixou o planeta para todos, mas alguns ‘espertos’ se apossaram criminosamente dele, deixando a imensa maioria passando necessidade. Não vamos baixar nossas cabeças e aceitar ordens de nenhum capitalista. Mexeu com uma comunidade, mexeu com todas!”

O termo “Retomada” vem da tradição de luta indígena e significa “pegar de volta o que nos foi roubado”; no caso, a terra e todos os direitos que garantam a dignidade humana imprescindível às famílias.


* Apoie esta luta compartilhando esta mensagem e contribuindo com a estruturação do acampamento através do pix: 88992300909 – José Breitner Soares de Castro.




terça-feira, 9 de janeiro de 2024

MAIS UM JOVEM LÉO

 


Thales Emmanuel, militante da Organização Popular – OPA

 

Leonardo Rocha, o Léo, ficou empolgadíssimo com sua participação na 1° Ocupação em Defesa da Casa Comum, em dezembro do ano passado. Ele, que entrou de cheio nas reuniões de preparação com as comunidades, na paralisação da obra da Barragem Fronteiras, em Crateús-CE, foi um dos primeiros a embiocar nas salas da chefia para exigir os direitos das famílias atingidas.

“Você viu só?! Eu segurei a porta para que todos pudessem passar. Não quero mais a vida de antes. É nessa militância que eu quero estar!”, falou-nos emocionado no retorno à sede da associação comunitária do Conjunto Nossa Senhora de Fátima. Léo, com seus 24 anos de idade, parecia finalmente ter encontrado um sentido na vida que lhe preenchesse completamente a alma.

Por intermédio de outros companheiros, fiquei conhecendo um pouco da vida de sua família e da fome sempre presente em seu lar, quando finalmente, depois de muita luta, conquistaram um. Léo tinha um amor e cuidado incondicionais a dois sobrinhos. Quando começamos a dar aulas de defesa pessoal na sede da associação, ele logo os trouxe. Os moleques são bastante dedicados e não faltam a nenhum treino. “São assim por conta de minha mãe. Ela é durinha. Não aprende com ela quem não quiser”, era com um orgulho raro de ver que se referia a seus pais. “Sou filho de pescador. O meu pai é pescador.”

“Eu queria ter tênis bom, ter roupa boa, mas a situação em casa não dava.” É, Léo, o capitalismo se apresenta como uma grande vitrine, mas nega à maioria o direito de acessá-la. Por crueldade e cinismo, é a mesma maioria que produz absolutamente tudo: o bom tênis, a boa roupa, a vidraça... Tudo mesmo! Tudo, menos a inacessibilidade.  

O jovem Léo, que não sabia ler nem escrever em papel, estava aprendendo e ensinando com a coletividade a analisar a realidade por outra ótica e a construir uma nova história, mas seu tempo foi interrompido. Sua vida foi tirada violentamente na noite de ontem, 08 de janeiro. Mais uma vítima de vítima.

Nossa missão não é julgar. Nossa missão é conviver, e, convivendo, convertermo-nos para as transformações sociais estruturais que ponham fim ao sistema de morte que tanta dor provoca. Nossa missão é aprender e ensinar a apontar a mira para os inimigos reais de nosso povo.

Que no ano novo possamos manter acesa a chama do compromisso com a velha luta por uma vida nova, e que esta seja socialista – não egoísta, não capitalista –, posto que seja plena para todas as pessoas.


DEFENDER A CASA COMUM: CONSTRUIR A RETOMADA ANCESTRAL.

  Robson de Sousa Moraes (Geógrafo, Professor da UEG) robson.moraes@ueg.br     A Terra é nossa Casa Comum, um lar compartilhado ...