Thales Emmanuel, militante da Organização Popular – OPA
Torcedor fanático do “Gigante da Colina Histórica”, como costuma chamar o Vasco da Gama, comunista declarado, com seus mais de setenta anos de idade, combatente ao lado de Carlos Marighella na Ação Libertadora Nacional (ALN), perseguido, torturado e exilado, o camarada Aldir me profere palavras quase sussurradas no alpendre de sua casa, em Teresina:
–
Como, Aldir? Não entendi.
–
Eu sempre perdi.
–
Como assim “sempre perdeu”? – indaguei meio confuso. Isso porque percebi que,
ao se declarar um derrotado, o camarada transbordava um indisfarçável
sentimento de satisfação. Parecia uma questão de honra mal disfarçada, e não
parecia ser só dele. Era algo coletivo, com raízes ramificadas entre vivos,
mortos e desaparecidos, entre os que ainda estão por nascer. Sim, eu vi alguns músculos
do rosto tremerem de emoção, como se doessem de contentamento, tal e qual uma enigmática
alegria que transborda de um breu profundo.
–
Eu sempre perdi. Em minha vida toda de comunista, eu sempre perdi. Foi sempre
assim – e, depois de uma pausa, conclui numa arrematada calma: – Ainda bem que
eu sempre perdi.
Todas as vitórias dos oprimidos e
explorados – absolutamente todas! – só são possíveis do ponto de vista militante
se houver lealdade à causa, à luta e à sua independência de classe, ainda que
esta atitude signifique uma vida inteira de derrotas.