Por Equipe de Comunicação da OPA
Há
exato um ano, no dia 12 de setembro de 2022, a Organização Popular – OPA,
unificada a sindicatos e movimentos populares, realizávamos o primeiro
Trancaço, com o fechamento de três rodovias estaduais do Ceará e um protesto no
Palácio da Abolição – sede do governo do estado –, em Fortaleza, simultaneamente.
O Trancaço ocorreu depois de várias tentativas
frustradas de marcarmos uma audiência com o governo do estado para encaminharmos
a resolução de nossa pauta de reivindicações. O não encaminhamento da solução para
os problemas sentidos significou, entre outras, o aumento das dificuldades de
sobrevivência de milhares de famílias trabalhadoras. Participaram do Trancaço indígenas,
quilombolas, Sem Terra, Sem Teto, atingidos/as por barragem, professores/as, pescadores/as,
agricultores/as, catadores/as de material reciclável, operários/as, juventude
periférica, gente do campo e da cidade.
Nossos
objetivos eram dois: primeiro, o Fora fascistas e seus aliados!, lembrando que
estávamos em pleno período eleitoral. O segundo foi cobrar a tal audiência da
então governadora Isolda Cela, hoje integrante do Ministério da Educação, do
Governo Federal. O primeiro objetivo foi naquele momento conquistado, derrotamos
eleitoralmente os fascistas no executivo, tanto a nível federal, quanto
estadual. Já em relação ao segundo objetivo, fomos tapeados. O governo se
comprometeu em nos receber, mas, ao chegarmos ao local marcado, fechou a porta
em nossa cara.
A
pauta da OPA e das demais organizações envolvidas no Trancaço está diretamente
ligada ao que o Papa Francisco chama de três “Tês”: Teto, Terra e Trabalho. O
capitalismo avança em todo o estado contra o povo de uma forma brutal,
destruindo vidas e causando bastante sofrimento. Sendo que boa parte de seus
projetos recebem aval e investimento dos governos municipais, estadual e
federal. “Dinheiro de nossos impostos, de nosso suor, custando nosso sangue!” A
luta assim se torna inevitável, uma vez que se transforma em uma questão de vida
ou morte para os primeiramente atingidos, mas não somente. Todas as pessoas que
habitam o planeta são afetadas de alguma forma. Por esse motivo, o Trancaço
representou o que denominamos de defesa da Casa Comum, a defesa da vida em
todas as suas dimensões.
Por exemplo: quando, em nossas ações,
gritamos que água e terra fiquem com o povo, para a produção de alimentos
saudáveis, e não com as empresas do agronegócio, que envenenam e destroem tudo
que encontram pela frente, estamos dizendo um “Sim!” à vida e um “Não!” à morte
matada. Esta luta se constitui em suspiro de esperança, mesmo para pessoas que
a desconhecem. Desconhecem, mas são atingidas pelo alimento envenenado que
consomem, pela violência decorrente da extrema violência que representa a
existência do latifúndio, e por aí vai.
Com
a rasteira que levamos do governo, mais ou menos quinze dias depois, realizamos
o Trancaço número 2. Desta vez nos reunimos todos e todas numa rodovia nas
imediações do Porto do Pecém, região metropolitana de Fortaleza, por onde se escoa
parte da produção do grande capital. Diante da pressão, novamente a governadora
se comprometeu em receber nossa comissão, para depois sumir de novo e sua
assessoria não mais responder nossas mensagens.
O
ano se passou e um novo governo foi eleito. Com as necessidades do povo se
agravando e a ganância capitalista espumando mais destruição pelo canto da boca,
organizamos, em Fortim, a I Celebração da Luta em Defesa da Água, do Território
e da Casa Comum, isso em março, no Dia Mundial da Água. Lá, foi lida uma carta
destinada ao governador Emano de Freitas, que, depois de muita pressão,
comprometeu-se em nos receber até o final de abril. Mas eis que chegamos a setembro
e a história se repete, com mais uma mentira, mais uma vez o governo nos
tapeando, mais uma palavra perdida por entre a malha do ralo da politicagem e
dos acordos lodosos com a classe dos capitalistas.
Importante frisar que as três enganações
não nos abateram. Muito pelo contrário. A indignação cresce proporcionalmente ao
fortalecimento de nossa união e de nossa determinação para concretização de
mais uma jornada. Mais comunidades e setores oprimidos se chegam, encontrando
na luta unificada a luz do raiar de um novo dia.
Até porque só pode ter sustância e ser verdadeira
a política de combate a fome quando se ataca os projetos que causam este mal; não quando
os promove. Até porque só pode ter sustância e ser verdadeira a democracia quando o povo
participa das decisões que interferem diretamente nos rumos de sua vida.
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