Thales Emmanuel, militante da Organização Popular – OPA.
“Agitação e propaganda” é um termo utilizado
por organizações para designar o trabalho de transmissão de ideias e mensagens
políticas. Um discurso na fila de um banco, um cartaz “Fora Bolsonaro!” colado
num poste, um panfleto entregue nos corredores de um mercado, uma reunião de
formação com a juventude em uma escola, são alguns exemplos.
A diferença da agitprop pura e simples
para o Trabalho de Base é que, no primeiro caso, o povo mais recebe; no
segundo, o povo é provocado a construir junto.
Pouco antes da pandemia do novo
coronavírus, iniciamos um trabalho de agitação e propaganda com o jornal O
Poder Popular nas ruas de Crateús-CE. A venda por R$ 1,00 nos era necessária
para a reprodução de mais exemplares, mas seu significado principal tinha teor
pedagógico. Todo mundo possui um real para dar num jornal que desperte seu
interesse. O pagamento representa uma espécie de compromisso mínimo com a
leitura. Quando havia curiosidade de sobra e dinheiro de nada, entregávamos o
material gratuitamente.
Como militantes, entendemos o jornal
como um mote, um instrumento para chegarmos até os caminhantes. Por esse
motivo, ainda que de forma mais ou menos ligeira, buscávamos uma abordagem
conversada, onde explicávamos a origem e importância do impresso, as principais
matérias e escutávamos o que tinham a dizer; enfim, quando possível,
realizávamos pequenas reuniões de formação à cada aproximação. O jornal
serviria de aprofundamento, mas as ideias fundamentais já apresentávamos na
conversa. Sem contar que, além de educar as oiças, o processo de escuta nos
proporciona uma boa noção de como anda o pensamento do povo a respeito de
determinados assuntos e suas correspondentes expectativas.
Até aí se tratava de um trabalho
exclusivamente de agitprop. A coisa começou a se abrir para a possibilidade de
um Trabalho de Base no instante em que a feirante perguntou: “Quando aparecem
aqui novamente?”; o balconista da loja de xérox advertiu: “De mês em mês? Olha
o compromisso! Não sumam, em!”; e o mototaxista indagou: “Como fazemos para
vocês participarem de uma reunião com nossa categoria?” O Trabalho de Base se
inicia quando a interação ocorre entre sujeitos ativos, com continuidade e agendas
construídas em conjunto. É o que começava a desabrochar a partir da agitprop.
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