sexta-feira, 5 de maio de 2023

ARCO-ÍRIS DOS DERROTADOS

 


Thales Emmanuel, militante da Organização Popular – OPA

 

Torcedor fanático do “Gigante da Colina Histórica”, como costuma chamar o Vasco da Gama, comunista declarado, com seus mais de setenta anos de idade, combatente ao lado de Carlos Marighella na Ação Libertadora Nacional (ALN), perseguido, torturado e exilado, o camarada Aldir me profere palavras quase sussurradas no alpendre de sua casa, em Teresina:

– Como, Aldir? Não entendi.

– Eu sempre perdi.

– Como assim “sempre perdeu”? – indaguei meio confuso. Isso porque percebi que, ao se declarar um derrotado, o camarada transbordava um indisfarçável sentimento de satisfação. Parecia uma questão de honra mal disfarçada, e não parecia ser só dele. Era algo coletivo, com raízes ramificadas entre vivos, mortos e desaparecidos, entre os que ainda estão por nascer. Sim, eu vi alguns músculos do rosto tremerem de emoção, como se doessem de contentamento, tal e qual uma enigmática alegria que transborda de um breu profundo.

– Eu sempre perdi. Em minha vida toda de comunista, eu sempre perdi. Foi sempre assim – e, depois de uma pausa, conclui numa arrematada calma: – Ainda bem que eu sempre perdi.

           Todas as vitórias dos oprimidos e explorados – absolutamente todas! – só são possíveis do ponto de vista militante se houver lealdade à causa, à luta e à sua independência de classe, ainda que esta atitude signifique uma vida inteira de derrotas.

            O passado, o presente e o futuro humanos agradecem, camarada Aldir, por ajudar a manter aceso o arco-íris.