quinta-feira, 17 de novembro de 2022

ALDEIA ANACÉ: UM PORTAL PARA A VIDA


 

                                                                     Por Thales Emmanuel, militante da Organização Popular – OPA.

 

Caminhando pela estrada de areia, cruzando com largas toras de troncos de barricada, parecíamos atravessar um portal que nos transportava a outro mundo.

Permeando o novo ambiente, logo nos deparamos com uma deslumbrante natureza, respeitada e amada como mãe da vida. A agricultura se dava em meio à diversidade de árvores e cantos de passarinho. A acolhida a nós, visitantes, foi totalmente isenta de formalismos. Vinha do coração. E, rapidinho, rola um bate-bola, cheio de risos e afeições. Mulher, homem, criança, tudo integrado, como uma floresta. Se não soubesse que estávamos nos conhecendo ali, naquele momento, diria que éramos amigos de infância, parentes próximos.

A terra nos dava boas-vindas acariciando nossos pés. O vento, que ziguezagueava entre as folhagens, espantava para longe o medo da repressão judiciada. Parecia polinizar de esperança a quem quisesse esperançar, sem que cercas e muros conseguissem empatar.

O almoço é servido! Cozinha coletiva. Onde há partilha, comunhão, ninguém passa fome. Mais à frente, o artista pinta e se pinta com traços de ancestralidade. O jenipapo ganha novos contornos nas peles da gente sonhadora. Traços de memória, rabiscos de resistência.

Frondosas árvores se uniam a partir de riba num pacto refrescante que fazia a conversa rolar solta. Cada um, cada uma ali valia pelo que tinha. Sim, pelo que tinha! E era somente amor, somente verdade o que se carregava nos bolsos.

Que mundo é este, afinal, para o qual, nós, militantes da OPA, fomos transportados naquela terça-feira, 15 de novembro de 2022?

É um mundo de resistência, como milhares de outros, que vive dentro e perseguido pelos donos do mundo cujo Lucro é o senhor. É uma aldeia Anacé, território indígena retomado, localizado no município de Caucaia-CE. Comunidade atualmente ameaçada de despejo por ordem da “Justiça”!

No Brasil, já são mais de quinhentos anos de movimento indígena abrindo portais, pontes, máquina do tempo engendrada com a única tecnologia capaz de levar a humanidade adiante: o amor à vida.

Agora e mais uma vez os Anacé abrem portais em nossas consciências, luzes que ajudam a enxergar as veredas de possibilidades para um novo tempo. Tempo que nasce da solidariedade entre aquelas e aqueles que anseiam pela a harmonia entre todos os seres, e por isso mesmo se unem para enfrentar os ídolos de uma sociedade de valores invertidos.

        À luta! À luta! À luta! Nos agarremos à ela, em qualquer lugar em que ela seja verdadeira expressão da vida. Sim!, porque num mundo em que um pretenso deus de nome Mercado se enfurece ao ouvir falar de combate à fome, vida só pode ser sinônimo de luta; e luta... o portal para a vida.

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