sexta-feira, 6 de maio de 2022

A FÓRMULA


 

Thales Emmanuel, militante da Organização Popular (OPA).

 

Um jovem e dedicado comunista pretende iniciar um Trabalho de Base junto aos trabalhadores e trabalhadoras dos Correios em sua cidade. Ele, estudante universitário, jamais atuara fora da academia e mal sabia que a categoria com a qual desejava se vincular se preparava para mais uma greve.

A luta se inicia e o militante, que vinha estudando a respeito, me liga:

“Camarada, os Correios entraram em greve.”

“Que bom! É uma excelente oportunidade de construir vínculos. E aí, vocês vão lá?”, pergunto.

“Não sei. Não me sinto preparado. Não sei o que posso fazer para contribuir. Nosso coletivo é pequeno e sem experiência”, responde-me em tom meio de desapontado.

“Irmão, você já assistiu a um filme chamado ‘Descalço sobre a terra vermelha’?", a linda história do bispo de tucum me vem à cabeça.

“Não, por quê?”

“Ele fala sobre a vida e a luta de um revolucionário chamado Pedro Casaldáliga. No final da década de 1960, o padre Pedro Casaldáliga, junto com um companheiro mais novo, Daniel, são enviados para uma missão em São Félix do Araguaia, interior de Mato Grosso. A realidade local, tomada por militares e latifundiários, é tão perversa e desumana que o amigo pensa em desistir. No filme, Daniel fala não estar preparado para aquilo. Casaldáliga se mostra bastante acolhedor e ao mesmo tempo direto: ‘Para estar preparado só precisa ter fé’. O que estou querendo dizer, camarada, é que se a gente acredita na luta dos trabalhadores, e eu sei que você acredita, não precisamos ‘temer o medo’. Basta irmos, porque o que passar disso aprenderemos fazendo.”

Nossa conversa serviu para que o jovem comunista percebesse a fé já contida em seu peito e a reconhecesse como elemento fundamental da prática militante. A mesma sensação que tive ao assistir Casaldáliga. Depois daí, ele se lançou com seus camaradas de partido pra dentro da greve, concedeu entrevista em rádio, construiu vínculos, amadureceu e continua sua militância com o empenho de sempre.

Tal como se referem ao futebol, o Trabalho de Base é uma caixinha de surpresas. É comum o friozinho na barriga, pois não existem fórmulas prontas. Toda preparação é fundamental, mas mais ajuda a preparação quando envolta pela experiência do inusitado. E, para tal propósito, “a fé não costuma faiá”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEFENDER A CASA COMUM: CONSTRUIR A RETOMADA ANCESTRAL.

  Robson de Sousa Moraes (Geógrafo, Professor da UEG) robson.moraes@ueg.br     A Terra é nossa Casa Comum, um lar compartilhado ...