sexta-feira, 24 de junho de 2022

A MAMANGAVA

 


Thales Emmanuel, militante da Organização Popular – OPA.

 

            Você já deve ter se encontrado com uma mamangava por aí. É uma abelhona – grande mesmo! – de zumbido forte, geralmente solitária, que vive a pairar entre flores. Muitas pessoas se assustam com sua presença. Talvez desconheçam o bem imenso que gratuitamente ela faz à humanidade. A mamangava é responsável pela polinização de inúmeras espécies de plantas e, consequentemente, por seus frutos.

            O capitalismo tem sido implacável com as abelhas. Grandes desmatamentos, agrotóxicos e os transgênicos ameaçam de extinção várias espécies, entre elas a mamangava. Se você jamais topou com uma mamangava por aí, de certo esse é um dos motivos.

            Na periferia de Crateús, cidade do interior do Ceará, a comunidade Nossa Senhora de Fátima se constrói ecologicamente através do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Irmã Dorothy. Nome dado a um conjunto de práticas coletivas implementadas voluntariamente pela própria comunidade na busca pela plena harmonia entre humanidade e natureza.

            “Esse projeto é feito com muito Trabalho de Base e se inspira principalmente no legado da Irmã Dorothy e nos ensinamentos dos povos indígenas. Ele vai desde a mobilização para a luta contra o agronegócio e o modelo de mineração capitalista, por exemplo, passando pelos quintais ecológicos da comunidade, até à produção e distribuição de mudas na sede de nossa associação”, lembra José Breitner, um dos coordenadores.

            Há mais ou menos dois meses, a comunidade replantou 150 mudas nativas nas margens do córrego que atravessa o bairro. Na noite do mesmo dia, numa reunião, justo no ponto em que se passava o informe do trabalho de reflorestamento realizado, uma mamangava negra entra pela lateral do barracão, dá duas voltas sobre nossas cabeças e parte.

            Tive a sensação que ela veio nos abraçar, partilhar de sua alegria e deixar um pedido singelo: “Polinizai, irmãos e irmãs! Polinizai!”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEFENDER A CASA COMUM: CONSTRUIR A RETOMADA ANCESTRAL.

  Robson de Sousa Moraes (Geógrafo, Professor da UEG) robson.moraes@ueg.br     A Terra é nossa Casa Comum, um lar compartilhado ...