Por Thales Emmanuel, militante da Organização Popular – OPA.
Caminhando
pela estrada de areia, cruzando com largas toras de troncos de barricada, parecíamos
atravessar um portal que nos transportava a outro mundo.
Permeando
o novo ambiente, logo nos deparamos com uma deslumbrante natureza, respeitada e
amada como mãe da vida. A agricultura se dava em meio à diversidade de árvores
e cantos de passarinho. A acolhida a nós, visitantes, foi totalmente isenta de
formalismos. Vinha do coração. E, rapidinho, rola um bate-bola, cheio de risos
e afeições. Mulher, homem, criança, tudo integrado, como uma floresta. Se não
soubesse que estávamos nos conhecendo ali, naquele momento, diria que éramos
amigos de infância, parentes próximos.
A
terra nos dava boas-vindas acariciando nossos pés. O vento, que ziguezagueava
entre as folhagens, espantava para longe o medo da repressão judiciada. Parecia
polinizar de esperança a quem quisesse esperançar, sem que cercas e muros
conseguissem empatar.
O
almoço é servido! Cozinha coletiva. Onde há partilha, comunhão, ninguém passa
fome. Mais à frente, o artista pinta e se pinta com traços de ancestralidade. O
jenipapo ganha novos contornos nas peles da gente sonhadora. Traços de memória,
rabiscos de resistência.
Frondosas
árvores se uniam a partir de riba num pacto refrescante que fazia a conversa
rolar solta. Cada um, cada uma ali valia pelo que tinha. Sim, pelo que tinha! E
era somente amor, somente verdade o que se carregava nos bolsos.
Que
mundo é este, afinal, para o qual, nós, militantes da OPA, fomos transportados
naquela terça-feira, 15 de novembro de 2022?
É
um mundo de resistência, como milhares de outros, que vive dentro e perseguido
pelos donos do mundo cujo Lucro é o senhor. É uma aldeia Anacé, território
indígena retomado, localizado no município de Caucaia-CE. Comunidade atualmente
ameaçada de despejo por ordem da “Justiça”!
No
Brasil, já são mais de quinhentos anos de movimento indígena abrindo portais,
pontes, máquina do tempo engendrada com a única tecnologia capaz de levar a
humanidade adiante: o amor à vida.
Agora
e mais uma vez os Anacé abrem portais em nossas consciências, luzes que ajudam
a enxergar as veredas de possibilidades para um novo tempo. Tempo que nasce da
solidariedade entre aquelas e aqueles que anseiam pela a harmonia entre todos
os seres, e por isso mesmo se unem para enfrentar os ídolos de uma sociedade de
valores invertidos.