Equipe de Comunicação da Organização Popular - OPA
Se você passar numa das estradas carroçáveis do município de Morrinhos, localizado a aproximadamente 211 km de Fortaleza, no Ceará, pode se deparar com um cenário inesperado: inúmeras bandeiras da Palestina hasteadas em frente a uma propriedade rural.
Ali se encontram 52 famílias agricultoras sem terra, prontas para resistir a uma ação de despejo movida pelo secretário de governo e deputado estadual, Zezinho Albuquerque.
A Ocupação Poeta Colibri, como as famílias a batizaram, nasceu em setembro de 2024, quando dezenas de trabalhadoras e trabalhadores do distrito de Sítio Alegre, no município de Morrinhos, entraram num conhecido latifúndio que há muito não cumpria com sua função social, como determina a Constituição Federal.
As famílias nativas literalmente ocuparam a terra! Em nove meses, cultivaram uma diversidade incontável de alimentos, melhoraram as estruturas e estavam construindo suas vidas ali quando receberam uma liminar de reintegração de posse, uma ordem de despejo, emitida pelo juiz de Santana do Acaraú, Gustavo Ferreira Mainardes.
“O doutor juiz precisa chegar aqui para conhecer a realidade. A terra não produzia nada há uns 20 anos. Somos famílias aqui da região, nativas. Sabemos o que estamos dizendo e também o que estamos fazendo. Temos direito a essa terra. Alguns de nós têm sim uma casinha simples na cidade. Isso não tira nosso direito, porque ninguém tem terra. Se o juiz vier, será muito bem acolhido, terá a oportunidade de conhecer nosso lugar e comer de nossa produção. Trabalhamos na terra e precisamos dela para plantar”, comentou seu Aristides, integrante da Poeta Colibri.
Com a apreensão gerada ante a iminente repressão por parte do Estado, reunindo-se e assistindo ao que ocorre com o povo palestino, a identificação se fez inevitável:
“O povo palestino é gente que não é tratado como gente, igual a nós. O povo palestino tem direito à terra e a viver como qualquer outro povo do planeta, igual a nós. O governo de Israel está querendo tirar eles do mapa. O deputado e o juiz estão querendo fazer a mesma coisa com a gente. Por isso fincamos essa ruma de bandeira da Palestina, porque nós somos a Palestina e a Palestina somos nós. É pela vida. Nós lutamos pela vida!”, continuou seu Aristides.
O deputado Zezinho Albuquerque apresentou documentos que comprovariam a propriedade de apenas uma pequena parcela do latifúndio abandonado.
O magistrado Gustavo Ferreira Mainardes não considerou o índice de produtividade, necessário ao cumprimento da função social da terra. Decretou o despejo justificando que os trabalhadores possuem casa e concedeu dez dias para que as famílias saiam com seus pertences, incluindo a colheita do que for possível, sob pena do uso da violência.
Pessoas, comunidades e entidades, a par da injustiça flagrante, somam-se à luta e afirmam estar dispostas a resistir até o final com a Poeta Colibri.
A comunidade cobra dos governos uma inspeção técnica da área e convida, muito respeitosamente, o juiz para uma visita, para que emita seu parecer depois de conhecer com os próprios olhos a realidade. Além de resistir, tal e qual o povo palestino, no direito de existir.
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