sexta-feira, 3 de junho de 2022

TRABALHO E CONSCIÊNCIAS COLETIVAS

 


                         Thales Emmanuel, militante da Organização Popular (OPA).

 

Os capitalistas, até para se manterem no poder, sendo a ínfima minoria da população, estruturam e estimulam a sociedade na base da competição, da divisão entre os oprimidos e explorados, imensa maioria. Isso provoca nas consciências um sentimento individualista, avesso à coletividade. Assim, não raro, decisões tomadas em assembleias comunitárias são encaradas hostilmente por alguns como ordens determinadas por um tipo diferente de patrão.

O São Francisco, em Icapuí-CE, é um assentamento de Reforma Agrária nascido da luta, da ocupação e do enfrentamento contra as forças do latifúndio. Com a terra conquistada, os interesses se individualizaram a tal ponto de ficar cada um por si. Foi a única comunidade que vi que nem na cerca do perímetro, a que circunda a totalidade do terreno, se trabalhava coletivamente. Nas reuniões e nas lutas, cada família se movimentava por preocupações puramente particulares.

As minoritárias pessoas com ativa consciência coletiva tinham suas propostas constantemente ridicularizadas e as decisões refletiam sempre o império do privado. Até que conquistamos um projeto de criação de animais de pequeno porte que só podia ser aplicado coletivamente. Depois de muito debate, quatro famílias toparam geri-lo.

Após este feito, interessante como progressivamente o interesse coletivo foi ocupando o tempo das reuniões. As reflexões eram respaldadas agora por uma prática coletiva em pleno exercício. Demos uma atenção especial ao projeto. Não podia fracassar. Seu êxito, junto ao processo de formação no Trabalho de Base, fez surgirem novas práticas coletivas e o São Francisco por um tempo se tornou referência respeitada de organização.

Nos acampamentos, a construção das barracas, da cozinha, do local das reuniões, a preparação das atividades, todas podem ser ações coletivas que mexem positivamente com as consciências. Na contramão da ordem social do capital, recolocam o indivíduo em harmonia com seus iguais.

            Vale ressaltar que não é o trabalho pelo trabalho. Não somos peças de um sistema mecânico, que basta apertar o botão para se acender a luz da consciência. É o trabalho coletivo associado à presença ativa militante. A tal da práxis, teoria e prática juntas. Consciências que transformam estruturas; estruturas que transformam consciências.

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