Thales Emmanuel, militante da Organização Popular (OPA).
Os capitalistas, até para se manterem no
poder, sendo a ínfima minoria da população, estruturam e estimulam a sociedade
na base da competição, da divisão entre os oprimidos e explorados, imensa
maioria. Isso provoca nas consciências um sentimento individualista, avesso à
coletividade. Assim, não raro, decisões tomadas em assembleias comunitárias são
encaradas hostilmente por alguns como ordens determinadas por um tipo diferente
de patrão.
O São Francisco, em Icapuí-CE, é um
assentamento de Reforma Agrária nascido da luta, da ocupação e do enfrentamento
contra as forças do latifúndio. Com a terra conquistada, os interesses se
individualizaram a tal ponto de ficar cada um por si. Foi a única comunidade
que vi que nem na cerca do perímetro, a que circunda a totalidade do terreno,
se trabalhava coletivamente. Nas reuniões e nas lutas, cada família se
movimentava por preocupações puramente particulares.
As minoritárias pessoas com ativa consciência
coletiva tinham suas propostas constantemente ridicularizadas e as decisões
refletiam sempre o império do privado. Até que conquistamos um projeto de
criação de animais de pequeno porte que só podia ser aplicado coletivamente.
Depois de muito debate, quatro famílias toparam geri-lo.
Após este feito, interessante como
progressivamente o interesse coletivo foi ocupando o tempo das reuniões. As
reflexões eram respaldadas agora por uma prática coletiva em pleno exercício. Demos
uma atenção especial ao projeto. Não podia fracassar. Seu êxito, junto ao
processo de formação no Trabalho de Base, fez surgirem novas práticas coletivas
e o São Francisco por um tempo se tornou referência respeitada de organização.
Nos acampamentos, a construção das
barracas, da cozinha, do local das reuniões, a preparação das atividades, todas
podem ser ações coletivas que mexem positivamente com as consciências. Na
contramão da ordem social do capital, recolocam o indivíduo em harmonia com
seus iguais.
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